Banco de dissertações
Título: Inaudíveis e invisíveis: representações de negros na historiografia acreana
Autor(a): Flávia Rodrigues Lima da Rocha
Resumo: Esta pesquisa é um estudo sobre o negro e suas representações na historiografia acreana. A partir da leitura e análise de algumas obras que abordam a história do Acre procura-se identificar e compreender o tratamento que esta historiografia dispensou ao sujeito negro, presente na formação histórica da região, pontuando as formas de silenciamento sobre essa presença e seus significados históricos. Além disso, a modernidade é posta nesta pesquisa sob uma perspectiva diferenciada, que, ao invés de trazer ordem e progresso, trouxe escravidão e desumanidade, silenciando o negro como sujeito histórico. Nesta dissertação as representações historiográficas ganham relevo, especialmente, porque a força da linguagem escrita tem subordinado outras formas de percepção e de inserção de diferentes grupos humanos no universo sociocultural amazônico.
Palavras-chaves: discursos - negros – historiografia – Amazônia acreana
Titulo: Equilibrando a vida: os enunciados sobre os malabaristas da subsistência do pós-abolição carioca
Autor(a): Marina Vieira de Carvalho
Resumo: Esta dissertação inscreve a história de personagens presentes nas ruas da cidade do Rio de Janeiro: os trabalhadores informais. Uma história da diferença que esses indivíduos, ao afetarem e serem afetados pelo controle urbano e pela sociedade, engendraram (e engendram) na urbe carioca, é o que se propõe. O momento privilegiado é o do pós-abolição, por ser um período de tensão entre descontinuidade (fim da mão-de-obra escravista) e continuidade (das pequenas profissões amorfas à classificação assalariada de trabalho); e, ainda, marcado pela modernização da cidade (as reformas urbanas e higiênicas dos governos Rodrigues Alves e Pereira Passos). Para ir ao encalço dessas vidas- equilibristas, problematizo alguns enunciados produzidos sobre eles: o historiográfico (pesquisas que tocam nesse tema), o jurídico (por meio da Contravenção da Vadiagem e sua reincidência – artigo 399 e 400 do Código Penal de 1890) e o caricatural (dois álbuns intitulados Cenas da Vida Carioca, de Raul Pederneiras). Que ditos sobre os trabalhadores informais compõem a memória dizível da cidade? Ao compará-los, por que e quais são as semelhanças e diferenças entre esses enunciados? Que interfaces entre eles o controle urbano e os transeuntes foram possíveis?.
Palavras-chave: História da Cidade do Rio de Janeiro. Modernidade, modernização e modernismo. Malabaristas da subsistência. Enunciados.
Título: Trajetórias de professoras negras dos cursos de formação de professores da UFAC/Campus Rio Branco
Autor(a): Sulamita Rosa da Silva
Resumo: A presente dissertação teve como objetivo analisar como foram tecidas as trajetórias de professoras negras dos cursos de formação de professores da Universidade Federal do Acre/Campus Rio Branco e de que modo organizavam e abordavam discussões sobre gênero e raça nos seus Currículos Lattes. A temática surgiu devido às invisibilidades no que se referia à presença de mulheres negras atuando como professoras universitárias, bem como à significativa ausência de representatividades concernentes ao protagonismo dessas mulheres, e ao interesse em saber em quais cursos de Licenciatura estavam e como abordavam discussões de gênero e raça em suas produções. Na revisão de literatura, o que foi constatado era a presença de mulheres negras atuando de forma frequente em espaços de subalternidade, em decorrência do racismo estrutural. Por conseguinte, encontrá-las como professoras universitárias demonstra casos específicos de sucessos profissionais. Quanto à metodologia adotada, a pesquisa foi elaborada em uma perspectiva pós-crítica, sendo de abordagem qualitativa e tendo como procedimentos metodológicos o estudo bibliográfico de tais temáticas, estudo de campo no contato com as sujeitas por meio de entrevistas de modelo narrativo e análise documental de seus Currículos Lattes, relativos às produções científicas concernentes às categorias aqui discutidas. Quanto aos dados encontrados, das onze professoras negras entrevistadas, três eram professoras substitutas, duas destas eram as mais retintas de todas as sujeitas entrevistadas, sofrendo maiores incidências de discriminações raciais e de gênero, expressas nas narrativas de suas histórias de vida. As abordagens sobre a categoria raça foram exploradas em nível de ensino, pesquisa e extensão de forma assídua por duas professoras, não obstante, atualmente quatro das professoras entrevistadas participam do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI), que promove formações voltadas para a Educação das Relações Étnico-Raciais. A pluralidade, no que se refere às epistemologias tecidas das experiências das professoras, permeou a construção de suas identidades profissionais e nestas ainda repercute, sendo mulheres negras plurais, não universais, e que produzem saberes a partir do vivido e do cenário presente em que atuam.
Palavras-chave: Colorismo. Interseccionalidade. Forasteira de dentro.
Título: Cultura Afro-Brasileira e Educação: significados de ser criança negra e congadeira em Pedro Leopoldo - Minas Gerais
Autor(a): Cláudia Marques de Oliveira
Resumo: Este estudo buscou compreender os significados de ser criança negra e congadeira a partir do acompanhamento de um grupo de dezessete crianças residentes na cidade de Pedro Leopoldo – Minas Gerais e integrantes de duas guardas do congado. Os sentidos atribuídos pelos sujeitos à sua infância no congado, à sua percepção como crianças negras e congadeiras, levando em conta as especificidades de seu pertencimento étnico-racial e cultural no contexto local, foram orientações seguidas na análise realizada. Além disso, buscou-se apreender e entender como as crianças aprendem a ser congadeiras na perspectiva das trocas e interações possibilitadas pelas diferentes relações com os adultos e entre elas mesmas. Para realização da pesquisa adotou-se a etnografia como eixo metodológico central. As crianças foram acompanhadas nas festas promovidas pelas guardas de congado e nas visitas por estas realizadas às outras comunidades congadeiras. Também foram realizadas conversas individuais, encontros coletivos e visita às crianças e suas famílias. O trabalho de campo ainda contou com o recurso da filmagem, da fotografia e do registro no diário de campo. A pesquisa apontou que as crianças congadeiras circulam e interagem em diversos espaços. A escola é um deles. Embora esta instituição não tenha sido o foco central da investigação, ela se apresentou no discurso das crianças e nas suas lembranças sobre o vivido como um tempo/espaço significativo, marcado por vivências negativas em relação ao seu pertencimento étnico-racial, dos familiares e colegas. É nesse processo complexo que elas aprendem a ser negras e congadeiras. Um movimento marcado por indagações, silenciamentos, medos, negação, afirmação e ressignificação. Mesmo que as crianças aparentassem não entender todos os aspectos da fé, da devoção, da simbologia e das abstrações integrantes do congado, observou-se que, no interior dessa prática cultural elas constroem valores, educam-se, deseducam-se, afirmam-se e vivem as tensões identitárias que acompanham o universo afro-brasileiro e as relações raciais no Brasil.
Palavras-chave: Infância, Congado, Relações raciais.
Título: Expressões do preconceito racial e do racismo no contexto da política de cotas raciais: a influência das normas sociais e da identidade social
Autor(a): Patrícia da Silva
Resumo: O objetivo do presente trabalho foi analisar a influência da identidade e das normas sociais naexpressão do preconceito no contexto de implantação de cotas nas universidades. Trata de uma pesquisa quantitativa (tipo survey), para verificar influência das variáveis identitárias (autocategorização; identificação e percepção de proximidade com os negros) e normativas (normas sociais, motivações para controle do preconceito e orientação a dominância social) na relação entre o contexto de implantação das cotas (variável independente) e as expressões do preconceito racial e do racismo (variável dependente). E o efeito do preconceito (variável independente) sobre a adesão as cotas raciais (dependente). A coleta de dados foi feita em três universidades do nordeste do Brasil, das quais uma já havia adotado as cotas raciais, a outra possuía um tipo de bonificação (AI) sem conotação racial e a outra não tinha nenhum tipo de ações afirmativas ou cotas. Participaram da pesquisa 940 estudantes universitários, 40,1% do sexo feminino e 59,9% do sexo masculino, quanto cor 17,1% se consideraram negros e 79,3% brancos. A renda média foi de R$ 6.053,45. Os estudantes estavam vinculados aos cursos mais concorridos das áreas de humanas, exatas e da saúde. Constatamos o efeito da identidade racial e das normas sociais nas expressões do preconceito no contexto de cotas para negros nas universidades. O efeito do preconceito também é marcante para adesão a política de cotas para negros nas universidades.
Palavras-chaves: preconceito racial e racismo; identidade; normas sociais e cotas raciais
Título: A identidade étnico-racial negra no livro didático e as políticaspráticas curriculares cotidianas
Autor(a): Fábio de Farias Soares
Resumo: Atualmente o Livro Didático constitui-se como um dos mais importantes materiais didáticos de apoio à prática didático/pedagógica de professores e de professoras. Este caracteriza-se como artefato pedagógico e cultural complexo que sintetiza, em linguagem acessível, práticas culturais e saberes científicos. Entretanto, livros e outros materiais didáticos não são objetos neutros cuja finalidade esteja limitada apenas ao processo de ensino e aprendizagem, tendo em vista a representação que eles podem fazer do mundo, das sociedades e das diferentes culturas. Desse modo, livros didáticos também podem se tornar veículos de disseminação de desigualdades, inclusive raciais. Nesse sentido, os movimentos sociais negros têm se mobilizado na denúncia e no combate ao tratamento discriminatório detectado em materiais didáticos, conquistando vitórias como, por exemplo, a Lei no 10.639/2003, que determina a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no âmbito de todo o currículo escolar. Tendo isso em vista, este trabalho pretende compreender, a partir da perspectiva docente, como é inserida a identidade étnico-racial negra nos Livros Didáticos de História e quais os possíveis impactos nas políticaspráticas curriculares cotidianas. Para isso, realizou-se a investigação sob a perspectiva dos estudos nos/dos/com os cotidianos, com a realização de revisão bibliográfica, pesquisa documental e roda de conversação com os sujeitos/autores da pesquisa. Para tanto, foram estabelecidos diálogos com as contribuições de Ball et al. (2016), Certeau (1998), Ferraço et al. (2018), Gomes (2005; 2011), Hall (2006), Munanga (2004), Pais (2003), Santos (2007), Silva (2000; 2010), dentre outros(as). Através das narrativas docentes, pôde-se compreender que, apesar dos avanços ocorridos com a implementação da Lei no 10.639/2003, a forma como a identidade étnico-racial negra é inserida no Livro Didático de História continua a reproduzir estereótipos, hierarquias raciais, discursos racistas e eurocêntricos que contribuem para uma representação negativa do continente africano e a vinculação de personagens negras à sujeitos escravizados sob uma perspectiva de silenciamento. Entretanto, isso não tem impedido o trabalho com a Educação das Relações Étnico-Raciais em sala de aula, visto que as políticaspráticas curriculares cotidianas interferem e ressignificam o currículo expandindo-o para além de um documento prescrito, atribuindo, por consequência, outros possíveis usos para o Livro Didático.
Palavras-chave: Identidade Étnico-racial Negra; Livro Didático; Cotidianos; Políticaspráticas curriculares.
Título: Educação escolar Huni Kuῖ: saberes, experiências e base curricular
Autor(a): Danilo Rodrigues do Nascimento
Resumo: Esta dissertação busca compreender como as práticas educacionais do povo Huni Kuĩ se articulam com a educação escolar nacional, preservando, no entanto, seus saberes, suas linguagens e sua organização curricular própria. Como fundamentação teórico-metodológica, propomos um estudo da educação escolar Huni Kuĩ enquanto interculturalidade e transdisciplinaridade a partir dos seguintes estudiosos e pesquisadores (as) Walsh (2009), Weber (2004), Pessoa (2019), Lagrou (2007), Kaxinawá (2009), Gallo (1997) e Almeida (2008), tendo em vista as implicações políticas e comunitárias da construção da Base Estadual Curricular Comum Huni Kuĩ (BECCHK). Partindo de narrativas Huni Kuĩ, focamos a "pedagogia da jiboia" (cujo mito apresenta múltiplas possibilidades de experimentação a partir do canto, dos desenhos, da escrita, entre outras dimensões), e os textos escritos pelos professores. Nesse sentido, a dissertação reflete sobre a BECCHK, relacionando-a ao Projeto Pedagógico do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Magistério Intercultural Indígena – EJA, desenvolvido pelo Laboratório de Interculturalidade do PPGLI/UFAC. A educação escolar Huni Kuĩ demonstra as múltiplas maneiras de ensino e de aprendizagem com práticas linguísticas e culturais próprias. Na tentativa de organização curricular comum para as escolas das 12 Terras Indígenas Kaxinawá (Huni Kuĩ) do Acre, busca-se valorizar e desenvolver o Hãtxa Kuĩ (idioma falado por esse povo). Observamos as múltiplas conexões interculturais desse projeto político e pedagógico dos professores Huni Kuĩ, sem perder de vista a autonomia e o protagonismo da língua indígena, mas, sobretudo, com os movimentos tradutórios entre o Hãtxa Kuĩ e o Português. Palavras-chave: Educação Escolar Huni Kuĩ; Interculturalidade; Bilinguismo; Hãtxa Kuĩ; Base Estadual Curricular Comum Huni Kuĩ.
Título: Rastros (Socio)Linguístico-Identitários Negros: uma análise de Rei Negro, de Coelho Neto
Autor(a): Andressa Queiroz da Silva
Resumo: Buscar a valorização da história e cultura afro-brasileira e africana no Brasil, assim como preconiza a Lei 10.639/2003 e suas diretrizes (BRASIL, 2004) e orientações (BRASIL, 2006) é reconhecer, oficialmente, as contribuições dos povos negros africanos e afro-brasileiros para a constituição dos aspectos sócio-linguísticos-identitários do Brasil e, por meio das diferentes diásporas, os povos negros desenvolveram formas de resistência a diferentes processos de inferiorização, sendo as línguas usadas para marcar traços de inserção de sujeitos negros em diferentes ambientes. Dentre as inúmeras contribuições das diásporas africanas para a formação do Brasil, pode-se observar como se desenvolveram formas de interação intermediadas por línguas e, para tal, como essas línguas foram usadas para marcar diferentes posições sociais em espaços de interação. Desse modo, nesta dissertação, o estudo centrou-se na análise de diferentes itens lexicais em que sujeitos/personagens do romance Rei Negro (NETO, 1914) utilizaram vestígios de línguas africanas – neste caso, especificamente advindos do tronco linguístico banto – e a língua portuguesa para a formação de sentidos sobre formas de identidades negras no romance. A descrição dos aspectos lexicais do enredo consistiu em observar como a narrativa de Rei Negro desenvolveu personagens que se constroem em espaços de socialização, cujas línguas são elementos delimitadores desses espaços (HALL, 2003, 2006, 2014, 2016; BAUMAN, 2005). De maneira geral, para atingir os objetivos propostos desta dissertação, os procedimentos metodológicos adotados foram: leitura e seleção de itens lexicais da obra; a partir desse levantamento, construíram-se Fichas Lexicográficas das lexias, organizando-as e indicando o seu contexto de uso para se interpretar formas de produção que marcam, de alguma forma, características identitárias dos personagens do romance. Alguns resultados apontam que o romance agrega valores positivos relacionados ao uso da língua portuguesa e valores negativos ao uso de resquícios de línguas africanas e/ou do português “africanizado”. Esse fator é resultado da construção histórica e do projeto colonial de construção de um Estado/Nação com uma língua única e “oficial” que é a língua do branco e o menosprezo às produções linguísticas que promovem relações com as línguas africanas.
Palavras-chave: Identidades Negras;Léxico;Rei Negro;Vestígios de línguas africanas;Língua Portuguesa.
Título: A educação das relações étnico-raciais nos projetos pedagógicos curriculares do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Acre
Autor(a): Wálisson Clister Lima Martins
Resumo: Resultado de reivindicações políticas e sociais históricas levantadas pelo movimento negro brasileiro desde o século passado, a Lei 10.639/2003 e documentos decorrentes instituem a obrigatoriedade do trabalho com a Educação das Relações Étnico-Raciais e ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana em toda a Educação Básica. Esses documentos trazem como proposta uma alternativa de projeto social baseada no antirracismo enquanto princípio fundamental para uma reeducação das relações étnico-raciais, entendendo a educação escolar enquanto um lugar essencial nessa perspectiva, e, consequentemente uma preocupação por uma formação docente que seja condizente com os objetivos pretendidos. A disciplina de História ocupa, nesse sentido, um lugar privilegiado na promoção e compartilhamento de conhecimentos que discutem os processos históricos de constituição do racismo. Assim, a presente pesquisa objetiva analisar a inserção da Educação das Relações Étnico-Raciais e da História e Cultura Afro-Brasileira na formação inicial de professores de História promovida pela Universidade Federal do Acre – Ufac. Para isso, foram estabelecidos diálogos com autores que tratam sobre as relações étnico-raciais no Brasil, por vezes relacionando-as com o campo da educação, tais como Gomes (2005, 2011, 2012a, 2012b), Munanga (2004, 2010), Silva e Rosemberg (2013) e outros; tratando também das discussões sobre branquitude (CARDOSO, 2010, LABORNE, 2014) e colonialidade nos referenciais de Quijano (2005), Oliveira e Candau (2010), Walsh (2007) e Dussel (2005). Afim de que se aprofundasse as conceituações sobre formação inicial de professores foram utilizados os escritos de Gatti (2010, 2013), Veiga (2008), Diniz-Pereira (2000); e empregadas as discussões propostas por Silva (2014, 2019), Santomé (2011), Moreira e Candau (2007) e Lopes e Macedo (2011) ao trabalhar o currículo enquanto documento histórico e político. O presente trabalho assume uma abordagem qualitativa de pesquisa, caracterizada pela preocupação em abordar os significados atribuídos (MINAYO, 2016), nesse caso específico, à educação das relações étnico-raciais na formação inicial de professores em História, aqui abordados através dos Projetos Pedagógicos Curriculares do curso de Licenciatura em História (PPCLH) da referida instituição posteriores à promulgação da Lei 10.639/2003 e entrevista realizada com uma docente do curso. O curso é o único de sua área ofertado por uma instituição pública no Acre, cuja história é marcada pela presença da população negra (per)seguida por um apagamento historiográfico, que reforça a presença do racismo. A falta de conteúdos voltados diretamente para essa temática nas ementas dos componentes obrigatórios nos PPCLH possibilitou perceber que a Educação das Relações Étnico-Raciais não é centralizada no processo de formação inicial, de modo que o tempo mínimo dado às disciplinas de História da África e História e Cultura Afro-Brasileira e a ausência de conteúdos explícitos referentes à Educação das Relações Étnico-Raciais refletem a manutenção da colonialidade do saber, do eurocentrismo e das perspectivas históricas valorizadas pela branquitude nos projetos pedagógicos do curso. Apesar disso, a presença indireta e tangencial do tema é bastante frequente nas ementas das disciplinas obrigatórias. Também se constata que a inserção da disciplina de História e Cultura Afro-Brasileira no projeto pedagógico de 2014 constitui um ato instituído e institucionalizado pelos órgãos deliberativos da Ifes.
Palavras-chave: Educação das Relações Étnico-Raciais. Formação Inicial de Professores. Licenciatura em História.
Título: A literatura infantil de temática da cultura africana e afro-brasileira, com a palavra as crianças: "EU SO PETA, TENHO CACHO, SO LINDA, Ó!"
Autor(a): Sara da Silva Pereira
Resumo: A proposição desta pesquisa foi de analisar como crianças pequenas, com idade entre 3 e 4 anos, experienciam processos de leitura, contação e apresentação de livro animado de uma história de literatura infantil de temática da cultura africana e afro-brasileira. Para escutarmos as crianças desenvolvemos uma pesquisa de cunho qualitativo, com base em referenciais teóricos que amparassem as discussões acerca da literatura infantil de temática da cultura africana e afro-brasileira: Debus (2017), Araujo (2017), Araujo e Silva (2012), Oliveira (2003; 2010), Ramos (2007); as discussões acerca dos estudos da Educação das Relações Étnico-raciais: Dias (2007; 2012), Queiros (2001), Trinidad (2011), Gomes (1995, 2002; 2017) e os estudos da infância: Sarmento (2002; 2005); Rosemberg (1985; 2012); Coutinho (2016); Kramer (2002). Por meio de pesquisa-ação realizada em um Centro Municipal de Educação Infantil de São José dos Pinhais (CMEI) entre os anos de 2017 e 2018, registramos através de filmagens e em um diário de campo as falas e produções das crianças a respeito da obra Bruna e a galinha d‟Angola, de Gercilga de Almeida (2009). A entrevista com a professora regente, importante colaboradora do estudo, a observação-participante e a escuta das crianças envolvidas no processo de pesquisa nos mostraram que: o acervo da unidade nem sempre primava pela qualidade literária, sendo que os livros de temática da cultura africana e afro-brasileira eram quase que inexistentes; as crianças não tinham contato com a diversidade étnico-racial nos materiais a que tinham acesso; elas se relacionaram positivamente com as histórias, inferindo sobre as mesmas e reconhecendo as personagens negras de forma não preconceituosa; há diferença de apreensão entre meninos e meninas; as crianças reconhecem as distintas cores das pessoas e utilizam vocabulário étnico-racial para designá-las; as crianças negras se identificaram positivamente com a personagem do livro; existem crianças negras que apresentam uma identidade étnico-racial positiva e que se mostram felizes em se reconhecerem como negras. Além disso, as crianças desenharam a metodologia em parceria com a pesquisadora. Constatamos também o ineditismo da nossa abordagem, pois não há pesquisas que tratem das crianças de 3 e 4 anos e sua interação com livros de temática da cultura africana e afro-brasileira. Os resultados encontrados mostram como é importante as crianças terem acesso a obras como essa. Assim, concluímos que essa literatura contribui para a construção de uma identidade negra positiva e que a relação das crianças com ela propicia: às crianças negras a sensação de pertencimento, aceitação e valorização, uma vez que elas se vêem representadas nas histórias e às não-negras a possibilidade de interagir com a diversidade étnico-racial, respeitando e valorizando as diferenças.
Palavras-chave: Literatura infantil. Literatura de temática da cultura africana e afro-brasileira. Educação infantil. Escuta de crianças.