Livro Racismos e Antirracismos no Ensino de Línguas
A primeira parte traz um resumo do que foi o conteúdo do curso motivador deste livro. São sete capítulos de textos curtos e densos que apresentam de forma resumida o conteúdo estudado em cada módulo.
“O panorama conceitual e histórico da lei nº 10.639/20003” permite que o leigo e o pesquisador conheçam e repensem a história da lei que marca o início das ações afirmativas no Brasil.
Na sequência, somos desafiados a pensar sobre a língua, com o capítulo “Educação linguística antirracista: o que é?”. Ele nos brinda com uma reflexão que vai além de termos de origem africana. O autor nos leva a pensar a língua e a área de estudos linguísticos a partir de um olhar de combate ao racismo.
O mesmo ocorre nos dois capítulos seguintes: “O estudo de línguas indígenas brasileiras: uma perspectiva anticolonial”, que destaca a presença dos pesquisadores indígenas na produção científica, assim, saindo da posição de objeto para a posição de sujeitos do conhecimento.
Na mesma perspectiva, o capítulo “Panorama da presença de línguas africanas no Brasil” se propõe a realizar um mapeamento do que restou das línguas africanas em nosso país, contudo, em uma perspectiva de valorização e reconhecimento político do uso desses vocábulos.
“Literatura negra brasileira e literatura africana” traz uma abordagem conceitual e histórica desses dois campos dos estudos literários. A autora busca diferenciar e marcar na história a presença da literatura negra de nosso país, estabelecendo relação com as literaturas produzidas nos países africanos.
Porém, toda essa produção que pode, algumas vezes, parecer mero estudo acadêmico, tem um impacto muito grande nas salas de aula da educação básica, o que faz com que o capítulo “Ideologias linguísticas na BNCC” seja de suma importância nesta obra e no cotidiano do fazer acadêmico. As ideologias que temos de língua, de ensino e de raça definem aquilo que ocorre na sala de aula. Quando a autora discute as línguas de prestígio, a norma culta e aquilo que a Linguística e a BNCC chamam de variação linguística não há como deixar de falar de raça e de relações étnico-raciais, pois aquilo que falamos que é preconceito linguístico, na maior parte das vezes, também carrega uma postura racista, que se apresenta com múltiplas roupagens.
“O uso de gêneros na sala de aula e as leis 10.639/2003 e 11.645/2008” nos aproximam de um fazer cotidiano da área de linguagens, contudo, nos obriga a pensar isso a partir das mudanças que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional carrega no artigo 26-A ao introduzir a história e cultura africana, afro- brasileira e indígena no currículo: a mudança dos gêneros textuais. Agora, a escola precisa pensar a oralidade e o impacto dela nos demais gêneros que são produzidos, pois uma postura antirracista reconhece o lugar e a história de produção de negros e indígenas em nosso país.
A primeira seção da obra – Língua portuguesa no ensino fundamental, anos iniciais – apresenta três sequências didáticas elaboradas para os anos iniciais do ensino fundamental. Nelas, os oito autores combinam uma organização que aponta para a identidade. As crianças pequenas precisam ter suas identidades valorizadas, seja pelo reconhecimento da beleza de seus cabelos, seja pela identificação das diferenças e reconhecimento do racismo.
Seguindo nas discussões de Língua Portuguesa, a Seção II apresenta o trabalho de 28 autores que se propõem a pensar, a partir de diferentes gêneros textuais, o lugar e o fazer de negros e indígenas numa perspectiva de valorização e de reconhecimento da trajetória e da imagem de diferentes sujeitos.
Pouco comum nas obras de nossos dias, a seção sobre Racismos e antirracismos no ensino de línguas: práticas pedagógicas e didáticas dedica duas subseções para trabalhos em língua estrangeira. Nosso país carrega as marcas do racismo no acesso ao conhecimento. A língua estrangeira é um desses acessos negados a estudantes pretos, pardos e indígenas, que são também os mais vulneráveis. Assim, muitas vezes, o ensino de língua estrangeira se abstém de pensar aspectos de raça. Os 11 autores da seção dedicada à língua inglesa nos desafiam a perceber, a partir do ensino de inglês, a forma como a identidade e a cultura se constroem numa perspectiva antirracista. Já na seção dedicada à língua espanhola, os 11 autores nos levam a perceber que não somos os únicos negros da América Latina. Há uma diversidade e resistência negra nos outros países, que se apresenta muito fortemente no Uruguai. No mesmo sentido, a reflexão da obra literária “História de um Guaraní” de Nelson Florentino traz a reflexão sobre a preservação da língua indígena guarani, que ultrapassa as fronteiras do Brasil e escancara a arbitrariedade das fronteiras demarcadas pelos europeus.
A última seção da obra, Ensino médio – linguagens e suas tecnologias, através do trabalho de 17 autores apresenta um leque de assuntos marcados pela novidade e mudança, assim como é a juventude e deveria ser toda a formação no ensino médio. Contudo, esse leque de possibilidades carrega em comum a preocupação de instrumentalizar politicamente os jovens ara perceberem a urgente questão racial de nosso país. As sequências didáticas apresentam os conteúdos programáticos e avançam no sentido de fazerem com que os jovens possam refletir sobre a identidade, a história, a política e o cotidiano brasileiro. Essa reflexão aponta para uma formação antirracista que nos enche de esperança.
Esperança é a palavra de ordem do Brasil em 2024, mas é também a palavra que deve mover os leitores desta obra. As sequências didáticas e as reflexões que aqui se apresentam nos fazem ter certeza de que é possível a produção acadêmica e o fazer didático-pedagógico voltados para a construção de uma sociedade antirracista.
Profa. Dra. Rosilene Silva da Costa
Graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005)
Mestrado em Literaturas Africanas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009)
Doutorado em Literatura e Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (2016)
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