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Mulheres com deficiência visual participam de projeto da Ufac

publicado: 26/08/2021 13h51, última modificação: 18/11/2022 16h20
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O projeto de extensão Acessibilidade Cultural e a Pedagogia Teatral, da Ufac, coordenado pelo professor do curso de Artes Cênicas, Carlos Alberto Ferreira, realiza a criação de uma performance que conta com a participação do coletivo livre Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão (MBMC). Link para audio-leitura.

O processo criativo para produzir a encenação conta com encontros semanais, na modalidade on-line, de atrizes com deficiência visual e alunos de Artes Cênicas, Direito, História, Jornalismo e Letras/Libras. A conclusão do trabalho está prevista para setembro, com a atuação de Cristina Gonçalves, Gislana Monte Vale, Luzia Gonçalves, Priscilla Menezes e Wanda Ferreira.

As performances são gravadas por meio de plataformas digitais, considerando o contexto da pandemia da covid-19 e porque as atrizes residem em diferentes Estados. As gravações levam em consideração o cotidiano das artistas; o material final dos registros contará com recursos de audiodescrição, legenda, intérprete para língua brasileira de sinais (Libras).

O projeto busca fortalecer conceitos de acessibilidade, além de abordar relatos das atrizes sobre suas vidas e invisibilidade ocasionada pela sociedade. “É a realização de uma encenação somático-performativa, que possui um atributo estético de romper com o papel da representatividade e da via do capacitismo, promovendo o contexto e a realidade das mulheres com deficiência”, ponderou Carlos Alberto Ferreira.

Para a representante do MBMC e artista participante, Gislana Monte Vale, do Ceará, a ideia é tornar visível a realidade dessas mulheres que possuem lugares de vida e falas diferentes. “Nosso movimento tem essa função, que é fazer participação, formação social e política de mulheres”, contou. “Quando falamos de política, nos referimos à perspectiva de como nos representamos, de onde podemos ocupar nossas vozes e nossos direitos sobre nossas necessidades.”

Para as atrizes, participar do projeto é integrar um processo criativo construído coletivamente. Priscilla Menezes, da Bahia, disse que esse processo virtual pode contribuir com o processo formativo e intelectual de todas as envolvidas. Luzia Gonçalves, do Rio de Janeiro, relatou que está com muitas expectativas para agregar ao projeto. “Estou muito feliz em participar e poder dar minha contribuição.”

Segundo Cristina Gonçalves, que atua há mais de 16 anos em Salvador, a parceria do MBMC com o projeto de extensão da Ufac amplia discussões sobre temas de acessibilidade. “A expectativa é que possamos alcançar a academia com muita força e impacto para fazer com que o conhecimento reverbere para toda a sociedade." Já Wanda Ferreira, do Rio de Janeiro, sentiu-se instigada a participar pela curiosidade de viver essa experiência. “Acredito que será um trabalho bacana e tenho muitas expectativas.”

MBMC

O MBMC surgiu em 2015, após a participação em evento nacional voltado para pessoas com deficiência visual e que não tinha representatividade de mulheres. “Nós somos um coletivo livre, ou seja, somos uma estrutura organizada, mas que não está estruturada como uma organização da sociedade civil; nós somos um movimento social. Somos mais de 150 mulheres integrando o movimento”, explicou Gislana Monte Vale.

O coletivo realiza encontros nacionais para debater questões sobre feminismo, identidade de gênero, sexualidade, raça/etnia, enfrentamento à violência, capacitismo e outras vertentes, a fim de democratizar e mover dimensões da vivência e da realidade de mulheres cegas e com baixa visão.

Além disso, realiza parcerias com diversas instituições, entre as quais as universidades. O objetivo é realizar projetos que promovam suas ações e discussões acerca das temáticas ligadas a deficiência, gênero, cultura e acessibilidade. “Nosso movimento promove a discussão de questões sobre a realidade dessas mulheres”, acrescentou Gislana. “O coletivo desenvolve tecnologias sociais para a formação de mulheres (enquete), atividades sociais e de lazer (boteco virtual), e de acessibilidade cultural com apresentação de curtas, filmes e rodas de conversa.”

A coordenação executiva nacional do MBMC organiza-se com um colegiado de mulheres, sem hierarquia definida, na compreensão de que as mulheres participantes possam trazer ao grupo a dimensão da equidade, atuando de uma forma circular na condução do movimento e na tomada de decisões.

Autores da reportagem: Guilherme Limes e Marcus Vinícius