Pesquisa

Artigo estuda toxina de jararacuçu no sistema imunológico humano

publicado: 14/12/2022 14h16, última modificação: 14/12/2022 16h07
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A estudante do programa de pós-graduação em Ciências da Saúde na Amazônia Ocidental, da Ufac, Karina Lisita, publicou, em inglês e coautoria, o artigo “Action of BjussuMP-II, a Snake Venom Metalloproteinase Isolated from ‘Bothrops jararacussu’ Venom, on Human Neutrophils” (Ação da BjussuMP-II, uma metaloproteinase de peçonha de serpente isolada da peçonha da jararacuçu —‘Bothrops jararacussu’—, sobre Neutrófilos Humanos), na revista científica “Toxicon”.

O artigo é fruto da dissertação de mestrado de Karina, orientada pela professora Juliana Zuliani, do Laboratório de Imunologia da Fundação Oswaldo Cruz de Rondônia. A jararacuçu é uma jararaca grande e com capacidade de alta produção de peçonha. Essa peçonha possui diversos componentes que, quando inoculados em uma pessoa, podem causar danos graves e até a morte. 

Os resultados obtidos no estudo demonstraram que a BjussuMP-II não é toxica para os neutrófilos humanos, mas é capaz de induzir a ativação destes leucócitos, verificada pelo aumento na formação de corpúsculos lipídicos, produção de peróxido de hidrogênio, liberação de NETs e produção de citocinas como o fator de necrose tumoral (TNF-alfa), interleucina-1 (IL-1 beta) e interleucina-6 (IL-6). 

Segundo Karina, a gravidade do acidente depende de vários fatores, tanto da vítima quanto da jararaca, mas o organismo da vítima vai responder a essas toxinas. “No nosso organismo as células do sangue desempenham um papel fundamental nessa resposta e os neutrófilos são importantes para nossa proteção”, explicou. “Nosso objetivo então foi verificar qual a ação de uma das toxinas presentes na peçonha da jararacuçu (BjussuMP-II) em neutrofilos humanos, ou seja, qual a resposta dos neutrófilos frente a BjussuMP-II.” 

Ela também observou que os neutrófilos são ativados por essa toxina e usam diferentes meios para tentar eliminar esses componentes in vitro. “Os neutrófilos de maneira geral liberam citocinas, redes extracelulares.”

Ofidismo 

O ofidismo é o quadro de empeçonhamento decorrente da picada por uma serpente em humanos que produz alterações locais ou sistêmicas e é considerado, pela Organização Mundial da Saúde, uma doença tropical negligenciada.

No Brasil, 90% dos acidentes são causados por serpentes do gênero Bothrops, pois a peçonha apresenta atividades proteolíticas, hemorrágicas e coagulantes, e as metaloproteinases, uma das proteínas enzimáticas encontradas na peçonha de serpentes (SVMPs), possuem uma importância ímpar no desenvolvimento dessas atividades. 

O empeçonhamento ativa uma resposta imune celular e os neutrófilos são os primeiros leucócitos a migrarem para o tecido após a inoculação da peçonha. Entretanto, não há na literatura estudos que demonstrem os efeitos causados pelas SVMPs em neutrófilos humanos. Assim, o objetivo desse estudo foi verificar o efeito da BjussuMP-II, uma SVMP de classe P-I isolada da Bothrops jararacuçu, sobre a funcionalidade dos neutrófilos humanos. 

Tomados em conjunto, os dados mostraram que a BjussuMP-II possui ação pró-inflamatória pois ativa os neutrófilos humanos e induz a liberação de mediadores que podem contribuir para o dano local em vítimas de ofidismo.