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Pesquisa analisa ameaça de seca e retenção de carbono na Amazônia

publicado: 27/04/2023 10h13, última modificação: 27/04/2023 10h13
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Professores do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza e alunos egressos do programa de pós-graduação em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, da Ufac, são coautores de artigo publicado, em inglês, na revista “Nature”, o qual avalia como a floresta amazônica provavelmente lidará com a seca futura e com a redução de sua capacidade de remover carbono do meio ambiente.

Entre os 80 pesquisadores que assinam o artigo, pela Ufac estão os docentes Marcos Silveira e Sabina Ceruto e os ex-alunos Martin Acosta, João Rodrigues, Renata Teixeira, Richarly Costa, Letícia Fernandes e Wendeson Castro. O estudo foi liderado por Júlia Tavares e David Galbraith, da Universidade de Leeds (Inglaterra).

“Esse trabalho reflete a preocupação da comunidade científica com a vulnerabilidade das árvores em relação às mudanças climáticas, especialmente no que diz respeito à mortalidade provocada pelos eventos recorrentes de secas severas”, disse Marcos Silveira.

Segundo Júlia Tavares, a Amazônia não é uma grande floresta, como muitas pessoas pensam. “Ela é composta por inúmeras regiões florestais que abrangem diferentes zonas climáticas, desde locais que já são muito secos até aqueles que são extremamente úmidos, e queríamos ver como esses diferentes ecossistemas florestais estão lidando com o clima para podermos começar a identificar regiões que estão em risco particular de seca e condições mais secas.” 

Para David Galbraith, a Amazônia está ameaçada por vários agentes, incluindo desmatamento e clima. “Compreender os limites de estresse que essas florestas podem suportar é um grande desafio científico. Nosso estudo fornece novos insights sobre os limites da resistência da floresta a um grande agente de estresse: a seca”, disse. “Revela como o risco florestal à seca varia em toda a bacia amazônica e fornece um mecanismo para prever o balanço de carbono no nível da floresta.”

O estudo fez parte do projeto Tremor e envolveu uma equipe internacional de pesquisadores da Europa, Brasil, Peru e Bolívia; foi financiado pelo Natural Environment Research Council (Conselho de Pesquisa do Ambiente Natural), do Reino Unido, e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 

Pesquisa

A pesquisa identificou regiões com floresta tropical que são susceptíveis a condições climáticas secas. Realizada na escala da bacia amazônica, avaliou a resistência das árvores às pressões negativas provocadas pela falta de água no solo, o que pode causar a morte da árvore por embolia.

Os cientistas mediram 540 árvores e 129 espécies arbóreas durante um ano, em 11 locais das regiões oeste, centro-leste e sul da Amazônia, abrangendo Brasil, Peru e Bolívia. Há árvores que apresentam maior resistência à falta de água e garantem um suprimento suficiente de água antes que a embolia ocorra, enquanto outras sucumbem facilmente diante da escassez de água. 

Além disso, eles usaram os dados para testar se a vulnerabilidade da floresta à seca poderia prever sua capacidade de acumular e armazenar o carbono retirado da atmosfera. Quantificaram a margem de segurança das árvores contra a morte relacionada à seca e previram que as árvores no oeste e sul da Amazônia correm um maior risco de morrer. 

Os pesquisadores concluíram que, na parte sul da floresta amazônica, onde o desmatamento é intensivo, historicamente houve mudança nos padrões climáticos. Com queda nos níveis de chuva e estação seca mais longa, as árvores apresentaram maior grau de adaptação para lidar com a seca, mas um maior risco de morte. Em contraste, as espécies de árvores das partes mais úmidas da floresta amazônica mostraram um menor nível de adaptação à seca, mas eram as mais seguras em termos de riscos de mudanças climáticas futuras, porque, pelo menos até agora, não haviam sido impactadas por mudanças nas chuvas. 

À medida que o risco de mortalidade por seca aumenta, a capacidade das árvores de armazenar carbono seria significativamente reduzida. A parte da Amazônia com maior estresse hídrico está na região sudeste. A análise revela que as árvores nesse local não atuam mais com um armazenamento de carbono em grande escala.