Pesquisa

Estudo avalia suspensão de diuréticos em insuficiência cardíaca

publicado: 30/09/2019 14h57, última modificação: 18/11/2022 16h10
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Pacientes com insuficiência cardíaca e sem retenção de líquido podem comemorar a diminuição de pelo menos uma medicação na receita médica. Estudo conduzido por pesquisadores brasileiros, incluindo o professor do curso de Medicina da Ufac, Odilson Silvestre, concluiu que é segura a suspensão de diuréticos nesses casos. A pesquisa foi publicada na revista científica European Heart Journal.

O ensaio da Rede Brasileira de Estudos em Insuficiência Cardíaca (ReBIC), liderado pelos professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Luis Rohde e Andreia Biolo, foi idealizado para avaliar a segurança e a tolerância da interrupção do uso de furosemida em doentes com insuficiência cardíaca. O estudo envolveu 188 pacientes de 11 centros brasileiros, entre os quais a Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre) e a Ufac. No Acre, a insuficiência cardíaca acomete em torno de 8 mil pessoas.

“O paciente com insuficiência cardíaca costuma ter receita médica com até sete remédios importantes para melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida”, destaca Odilson Silvestre. “Com esse estudo, conseguimos mostrar que é seguro retirar um desses remédios naqueles pacientes que estão bem.”

A pesquisa considera que — embora diuréticos desempenhem frequentemente papel central no tratamento dos pacientes, particularmente em períodos de instabilidade clínica — o impacto sobre a qualidade de vida é controverso. Para a maioria dos pacientes, os diuréticos levam à melhora imediata e notável da congestão corporal, mas estudos observacionais sugerem que a utilização de doses elevadas da medicação pode estar relacionada a consequências clínicas desfavoráveis, com comprometimento da sobrevida, a depender da dose. 

Ao todo, foram examinados 417 doentes e incluídos 188 na pesquisa, com idade média de 59 anos. Os participantes foram divididos em dois grupos aleatoriamente, com e sem administração do diurético furosemida. A pesquisa foi desenvolvida entre outubro de 2015 e agosto de 2018 em 11 clínicas no Brasil.

Os pacientes foram acompanhados pelos pesquisadores e submetidos a consultas de seguimento aos 15, 45 e 90 dias após a visita de randomização (sorteio que torna igual as chances de cair no grupo que suspendeu o uso do diurético assim como no grupo que continuou tomando). No início e na visita final, todos os doentes foram submetidos à avaliação laboratorial de rotina, caminhada padrão de seis minutos, autoavaliação da dificuldade de respirar etc. 

“O estudo concluiu que, entre as pessoas com insuficiência cardíaca e sem retenção de líquido, parar de tomar o diurético não aumenta as chances de ter falta de ar ou outros sintomas da doença”, diz Silvestre. 

A ReBIC foi patrocinada pelo CNPq. A gestão e análise dos dados foi realizada no Centro de Coordenação da Rede do Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde e no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Nove pacientes acreanos participaram do estudo que contou com apoio da Fundhacre e do grupo de pesquisa coordenado pelo professor Odilson Silvestre.