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Estudo destaca a maior causa de transmissão da doença de Chagas

publicado: 08/12/2020 15h45, última modificação: 18/11/2022 16h16
Os casos de transmissão oral da doença ultrapassaram as ocorrências via picada do inseto Barbeiro; consumo de açaí contaminado é o principal meio
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Um grupo de pesquisadores liderados pelo professor da Ufac Odilson Silvestre, publicou em agosto deste ano, um estudo que analisa dados sobre infecção oral da doença de Chagas aguda. O artigo foi publicado na revista científica Clinical Infectious Diseases, ligada à Universidade de Oxford, e analisa, entre outras, a taxa de letalidade dessa forma de transmissão da doença.

O trabalho contou com a participação de 11 instituições, entre universidades brasileiras e secretarias de Saúde. Foi realizada uma revisão sistemática que levou em conta 2.470 casos, com ocorrência de 97 óbitos, em publicações de 1968 a 31 de janeiro de 2018. “Colocamos tudo isso junto, para ver como acontece essa doença”, disse Silvestre.

O professor explica que as principais formas de contaminação da doença de Chagas acontecem ou pela picada do mosquito Barbeiro ou por ingestão de alimentos contaminados. “No passado era mais a picada do mosquito, agora é mais por ingestão de alimento contaminado, em especial, o açaí. Mas também, cana de açúcar, sucos e outros Alimentos”, explicou.

Os pesquisadores descobriram que dos casos analisados de doença de Chagas aguda, no formato de transmissão por via oral, a maioria ocorreu na Amazônia, sendo que o principal estado é o Pará, com maior número de ocorrências, com os primeiros relatados ainda em 1965. 

“Atualmente ainda temos isso presente, inclusive no Acre; mas o principal estado com a doença é o Pará”. Silvestre explica que a doença de Chagas aguda com transmissão por via oral pode causar uma inflamação do coração chamada miocardite e, às vezes, uma inflamação do cérebro chamada encefalite, ambos podem levar à morte. “É importante que os médicos estejam atentos para fazer o diagnóstico correto quando a pessoa chega no hospital com quadro de doença de Chagas”, disse. “A mesma pessoa treinada para malária pode fazer o diagnóstico da doença de Chagas”.

“É importante que as pessoas entendam que o açaí pode conter sim o ‘Trypanosoma cruzi’, o protozoário que causa a doença”, alertou Silvestre. “Há uma necessidade de o governo atuar nisso, treinando os vendedores de açaí para que eles façam o processamento adequado com um branqueamento”.

No processo de branqueamento, o fruto do açaí é aquecido a 80ºC durante 10 segundos. Em seguida, é resfriado antes de ser levado para os equipamentos que dão continuidade ao processamento. “Além de passar por outros produtos de higienização. Isso tira toda a contaminação e mata o ‘Trypanosoma cruzi’, tornando o açaí seguro para consumo”, disse o professor.

Sobre a letalidade dos casos analisados, o grupo de pesquisadores estimou que a taxa de letalidade da doença de Chagas aguda transmitida via oral é de 1,0%, sendo que as taxas de letalidade diminuíram ao longo dos anos. A doença transmitida por via oral é mais mortal no primeiro ano após a infecção.