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Quem contraiu dengue pode ser imune à covid-19, diz pesquisa

publicado: 06/01/2021 17h06, última modificação: 18/11/2022 16h19
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Com o objetivo de saber se a exposição a doenças infecciosas, como a dengue, pode piorar ou melhorar a evolução da covid-19, uma pesquisa foi conduzida pelo professor e pesquisador da Ufac, Odilson Silvestre, em colaboração com as universidades de Campinas, Federal do Paraná e Harvard. O estudo levanta a hipótese de imunidade cruzada para pacientes com covid-19 que foram contaminados previamente pelo vírus da dengue.

Para isso foi realizado acompanhamento, por 60 dias, de 2.351 pessoas infectadas pelo coronavírus em Rio Branco. Um questionário foi aplicado com o intuito de saber quais doenças infecciosas o participante havia contraído. As principais foram dengue, malária, zika e chikungunya. A pesquisa foi publicada na revista científica “Clinical Infectious Diseases”, da editora da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Os pacientes do estudo tinham idade média de 40 anos, sendo que 49% eram do sexo masculino. Desse total, 1.177 (50%) relataram histórico prévio de dengue. O estudo mostrou que apenas 23 pacientes foram assintomáticos para covid-19, sendo que desses, 16 não tinham contraído dengue e sete tinham.

Foram registradas 38 mortes no grupo. De acordo com a pesquisa, 26 nunca tiveram dengue e 12 tinham histórico de infecção por dengue. Ou seja, 68,4% dos óbitos por covid-19 foram de pessoas que não tiveram a doença. “Acompanhávamos essas pessoas para ver o que acontecia com elas”, disse Silvestre. “No grupo de pacientes que tiveram dengue, houve menos mortes por covid-19.”

Segundo o professor, a exposição ao vírus da dengue cria uma espécie de imunidade para covid-19. “O organismo se defende melhor quando já teve exposição a esse outro vírus, que é o vírus da dengue.” Ele relata que, conforme estudos prévios, pessoas que contraíram dengue, quando fazem teste do coronavírus, aparece o anticorpo para covid; e pessoas com covid, quando fazem teste para dengue, verifica-se anticorpo de dengue. “Acaba sendo um anticorpo direcionado para os dois vírus. Isso pode ser uma imunidade cruzada.”

Mas o professor esclarece que o estudo apenas levanta uma hipótese e não prova nada. “Esse é um estudo gerador de hipóteses que devem ser exploradas no sentido de entender melhor esse vírus da covid-19 e como funciona a defesa imunológica à doença”, explicou. “A pesquisa abre essa possibilidade de novas pesquisas para que tenhamos uma arma que nos previna e evite mais mortes por covid-19.”